quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Gestão de Riscos em Agronegócios

            A competitividade no agronegócio e a crise dos últimos anos vem preocupando as cooperativas de produção, fazendo com que busquem novos mercados, refaçam planejamentos estratégicos, moldem-se a novos nichos e demandas, bem como acompanhem as tendências para não serem surpreendidas com os devaneios do mercado. Essa preocupação, busca de dados e conhecimentos, faz com que os gestores e os próprios produtores tenham discernimento de como devem operar no novo sistema e passem a familiarizar-se com os termos técnicos agora em voga.

            Em face das constantes oscilações de preço, do dólar, dos preços de produtos e insumos, as cooperativas agroindustriais e os agricultores de modo geral, além de problemas de intempéries, falta de recursos financeiros por parte dos bancos estatais e mesmo os privados atualmente, operam em um mercado de alto risco, porque estão sujeitos aos caprichos de vários fatores que interferem diretamente na sua produção, preço, serviço e mercado consumidor.
           
            Para não correr riscos o produtor e a cooperativa precisam ser mais competitivos, cortando custos (reduzindo desperdícios), despesas, diversificando, criando diferencial, operando em larga escala, sacrificando lucros, tornando-se mais eficiente e se assegurando de que o valor a receber realmente remunere a produção com certa margem.

Assim, aprendem que derivativos são instrumentos financeiros “cujo preço deriva conforme o preço de outro ativo, o ativo subjacente. Esses instrumentos são formalizados a partir de contratos no qual uma parte efetua uma compra e a outra parte efetua uma venda de determinado ativo por preço e quantidade pré-estabelecidos para liquidação em data futura” (HULL, John C. Fundamentos dos Mercados Futuros e de Opções. São Paulo: Bolsa de Mercadorias e Futuros, 2005).

Para determinar um certo lucro, o agricultor trava seu preço de venda por meio de operações de hedge, ficando garantida a margem por ocasião da colheita. Trata-se de uma operação de futuro para poupá-lo dos riscos das oscilações de mercado.
Assim, através das operações de hedge na bolsa, os produtores vendem seus produtos com lucro antes da colheita, protegendo-se assim das variações no preço à vista do produto (SCHOUCHANA, Féliz. Introdução ao Mercados Futuros e de Opções Agropecuárias no Brasil. São Paulo: Bolsa de Mercadorias e Futuros, 2000).

Derivativos Financeiros são proteções para empresas contra oscilações futuras de preços.

Risco de mercado é a perda potencial resultantes de variações relativas aos preços, taxas, índices e juros. O valor de mercado normalmente é calculado levando-se em conta o fluxo de caixa e as variações de preços e taxas de juros.

A meta Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é uma ferramenta da política monetária utilizada para lastrear os rendimentos dos títulos públicos federais emitidos pelo Tesouro Nacional.
O Copom quem define a taxa de juros pertinente ao combate da inflação e taxa de remuneração de credores.
A taxa Selic origina-se do mercado financeiro, pois é quem faz as previsões de liquidez determinados pela economia do país, em face dos indicadores respectivos.
No inglês hedge significa cobertura, tendo por objetivo proteger as operações financeiras dos riscos de variações de preços de ativo determinado, assumindo uma posição de compra ou de venda. Não se trata de obter lucro, mas de uma trava no preço.

Por Mercados futuros se compreende a negociação, em Bolsa, de contratos futuros financeiros, como dólar, Ibovespa e agropecuários, como boi gordo, café, milho, soja e etanol.

Subvenção ao prêmio é um benefício concedido pelo órgão governamental do Ministério da Agricultura em favor do agricultor, tornando o seguro rural de mais fácil acesso, criando um programa para segurar a produção com preço mais reduzido.

A subvenção econômica é solicitada por qualquer pessoa física ou jurídica que produza ou cultive espécies contempladas pelo Programa dentro das áreas de zoneamento agrícola e permite ainda, a complementação dos valores por subvenções concedidas por Estados e municípios.

Para contratar o seguro rural, o produtor deve procurar uma seguradora habilitada pelo Ministério da Agricultura no Programa de Subvenção. Caso o produtor já tenha cobertura do Proagro ou do Proagro Mais para uma lavoura, o mesmo não será beneficiado pelo PSR na mesma área.

Diferencial de base na pecuária é a diferença entre o valor do indicador ESALQ/BM&F (indicador referente aos preços praticados à vista no Estado de SP) entre os preços praticados nas outras praças pesquisadas fora do Estado, ou seja, é o desconto no preço da arroba fora do Estado de São Paulo

Transferência de risco é uma operação consistente na transferência a terceiros de um grupo de ativos, a fim de a removê-los do balanço da instituição transferidora dos ativos, tornando-a imune ao risco de crédito destes. A transferência de risco opera-se por meio de uma   cessão definitiva dos ativos da instituição transferidora, cedente, para a instituição receptora dos riscos, entidade emissora. A transferência realiza-se por meio do isolamento de ativos de forma a removê-los do balanço do originador e torná-los imunes ao risco de crédito do mesmo.   

Os custos de carregamento referem-se aos custos de manuseamento, armazenamento e manutenção de stocks  

Por zoneamento agrícola entende-se um instrumento de política agrícola e gestão de riscos destinados a minimizar os riscos decorrentes de fatores climáticos, definindo em cada município a melhor época de plantio e colheita de culturas, levando-se em conta os diversos ciclos de cultivares e tipos de solos. Somente fazem jus ao Proagro os agricultores que fazem uso do pacote tecnológico recomendado na área do zoneamento agrícola específico.

Volatilidade é uma medida de risco. Quanto maior a variação num determinado período maior o risco.  Trata-se de um medidor de dispersão dos retornos de um título no mercado.

A Margem de Garantia é um valor que deve ser depositado antecipadamente no mercado futuro, como exigência da corretora de valores, servindo de garantia na bolsa enquanto opera no mercado.

A análise de cenários macroeconômicos faz com que a oscilação de preços da maioria das commodities já tenham sido previstas pelas cooperativas de produção e os riscos reduzidos, porém a variação depende de vários outros fatores, de forma que aos produtores resta travar o preço por meio de hedge ou contrato de venda futura, para assegurar que o seu produto consiga pagar seus custos e alcançar determinada lucratividade com o investimento na produção.

Dentre os riscos sofridos pelos agricultores podem ser citados: a)  os diretos do produto, por fatores climáticos (estiagem, intempéries, geadas, chuvas excessivas), pragas ou infestações; b) os de liquidez, quando o produtor utiliza capital de terceiros, normalmente financiando em instituições financeiras, precisa estar atento às taxas de juros, prazos de pagamento, se a sua produção alcançará realmente os valores investidos; c) os operacionais, ou seja, perdas decorrentes da própria produção (colheita mal sucedida, por falhas ocorridas durante o processo produtivo, como na semeadura, na adubação, preparo inadequado do solo, no tempo e no descontrole de plantio e colheita, etc.); d) de mercado, quando por ocasião da venda, há excesso de oferta, e o preço cai substancialmente, não cobrindo os custos de produção.

A operação de hedge novamente pode ser a solução do produtor para garantir valor desejado para evitar prejuízos maiores, com o travamento anterior do preço, minimizando o risco.

            Para garantir-se que não corre risco de prejuízo o investidor (produtor) deve calcular pormenorizadamente todos os seus custos de produção, o capital investido, e a rentabilidade que deseja, para ter os números corretos para travamento de preço adequado às suas expectativas.

            Ao produtor é interessante utilizar-se de derivativo de balcão, pois as instituições financeiras estão sempre melhor equipadas para dar-lhe maior segurança no investimento os contratos são flexíveis, sem ajustes diários, sem corretagem, sem aporte de garantia, podendo ser negociados vencimentos e valores. Para operar a bolsa o investidor precisa estar atento diariamente ao mercado, por terem ajustes diários, o que dificulta o agricultor, além disso os contratos são patronizados, com vencimentos definidos, e ainda tem o custo da corretagem e se exige margens de garantia.  O ambiente de contratação do derivativo no mercado de balcão ocorre em instituição financeira enquanto o do mercado de bolsa deve ser feita na BMF Bovespa.

            Conquanto nenhum serviço seja gratuito, tanto no mercado de bolsa quanto no de balcão, a verdade é que pela flexibilidade (possibilidade de negociação), o balcão se mostra mais maleável e permite a discussão. Evidentemente, tudo vai depender da quantidade e valores negociados, mas ainda assim, pelo ajuste somente no vencimento, tem se revelado mais atraente ao produtor rural.

            Base é a diferença entre o preço de uma commodity no mercado físico e a cotação para a mesma commodity no mercado futuro (MARQUES, P.V.; MELLO, P.C. Mercados futuros de commodities agropecuários: Exemplos e Aplicações aos Mercados Brasileiros. São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1999).  Ou seja, é a diferença do preço à vista atual e o preço futuro na data do vencimento do contrato.

            Assim, por exemplo, se for um hedge de venda em havendo enfraquecimento de base num contrato futuro de commodity significa que o retorno é negativo, se, no entanto, ela se fortaleceu (aumentou a base), o retorno passa a ser positivo. O oposto se dá no hedge de compra nesse caso.

            Tanto no contrato a termo (compra ou venda de ativo com preço pago no vencimento e entrega de bem, negociado em balcão de instituição financeira, são intransferíveis) quanto no contrato de futuro em bolsa (ativo determinado com preço predefinido, ajustes diários, qualidade e quantidade determinados) há o risco, pois, o prazo de vencimento já está definido, a diferença é que na bolsa podem ser feitos ajustes diários, mas se prejuízo houver o montante dependerá dos contratos negociados.

            O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) delimita o PROAGRO  para as culturas previstas dentro da Área de Zoneamento Agrícola de determinada região. O Proagro somente é concedido dentro dos limites dessa área mediante laudo técnico comprobatório das perdas, em caso tenham sido aplicados os insumos necessários na época certa com notas fiscais correspondentes de aquisição dos produtos.

            A contratação de seguro agrícola, assim, em áreas fora das delimitações do MAPA (Área de Zoneamento Agrícola) constituem-se em uma forma de assegurar-se contra os riscos inerentes à produção agrícola.

            A cédula de produto rural (CPR) é um documento que contém uma promessa de entrega de determinado produto rural, em qualidade e quantidade determinada, a ser emitida por produtores rurais. Liquida-se com a entrega física da produção. A CPR é uma operação de crédito (pois utilizada para financiar os insumos do plantio), mas não é derivativo, embora sirva para proteção do preço, uma vez que o valor é definido no momento da emissão, mediante acordo entre as partes contratantes.

            Custo de oportunidade é o de aquisição física da mercadoria ou de não vender, enquanto o custo de carregamento engloba todos os custos destinados a manter o estoque físico da mercadoria (custo de oportunidade, seguro, transporte, armazenagem, etc.) até a entrega futura no vencimento.


            Nos contratos futuros é possível estabelecer o ativo a ser entregue, local de entrega, a quem entregar, data e forma, gerando maior liquidez, pois tem a oportunidade de customizar o seu ativo, em contrato flexível, tanto para entrega a uma cooperativa como para uma outra empresa.

Jonas Keiti Kondo